A
EDUCAÇÃO NO NÍVEL SUPERIOR
A
DOCÊNCIA E A IDENTIDADE DO PROFESSOR NO CENÁRIO ATUAL DA DOCÊNCIA NO ENSINO
SUPERIOR
Tiago
Barros de Almeida
proftiagoalmeida@gmail.com
INTRODUÇÃO
O Sistema de Ensino Superior no Brasil vem
sofrendo uma verdadeira revolução desde que se estabeleceu como política
pública nos primórdios da Sociedade Brasileira.
A partir da década de 80, os professores por
toda a América Latina encontravam-se abatidos com salários minguados,
massacrados pela inflação galopante, foram praticamente despejados no universo
do multiemprego como alternativa de sobrevivência no meio da docência.
No caso dos professores da educação de nível
superior, as oportunidades de emprego assumiram um movimento crescente,
tornando-se uma avalanche desenfreada a partir dos anos 2000, turbinadas por
políticas públicas, as quais estabeleceram medidas compensatórias à pretexto de
democratizar o sistema de ensino, injetaram capital subsidiando total e
parcialmente os custos com mensalidades em Instituições de Ensino Superior –IES
do segmento privado, para os alunos inscritos em programas específicos para esse
fim – a exemplo citamos o PROUNI e o FIES.
Em meio à toda turbulência gerada pelas
forças dominantes cuja interação delineia os rumos da educação no Brasil,
trazemos à baila duas questões em especial:
- Como está configurada a Docência no Ensino
Superior no cenário atual da educação no País?
- Qual a influência deste cenário da educação
sobre a Identidade do Professor que atua no nível superior?
O desenrolar das influencias do capital na
educação em nosso país apresenta sua força ainda nos dias de hoje,
influenciando as movimentações mercadológicas que vem abocanhando este novo e
gigantesco segmento de mercado – o Sistema Privado de Educação Superior.
Gigantes no mundo dos negócios, e preocupados
exclusivamente com a saúde financeira de seus empreendimentos, os grandes
conglomerados financeiros internacionais vêm se movimentando e ganhando
território, adquirindo ou construindo Instituições de Ensino Superior – IES por
todo o Brasil.
Inúmeras são as consequências, dentre as
quais podemos observar um grave distanciamento entre os elementos da tríade -
Ensino, Pesquisa e Extensão. O Ensino adquiriu seu destaque em consequência da
desequilibrada oferta de novos cursos pelas IES que descobriram neste novo
filão uma excelente fonte de recursos.
Outra consequência desta mercantilização da
educação superior é a brusca queda de qualidade na oferta de tais novos cursos,
levando à formação deficiente de toda uma gama de profissionais que vem
desaguando no mercado de trabalho a cada ano, inflando cada vez mais diversos
setores da sociedade.
Todo este cenário vem se desenvolvendo não
por acaso. Personagens de nível transnacional do quilate do FMI e do Banco
Mundial, que apesar de se acortinarem em plano de fundo, regendo tudo sob seu
controle, sempre se manifestando discretamente, mas em última instância, lutam
para mascarar suas reais intenções políticas e sociais de manutenção e
perpetuação do modelo econômico neoliberal, congelando nações inteiras, a
pretexto de um pseudo-desenvolvimento.
Neste contexto, conforme nos ensina Lima
(2012) todo investimento realizado exige como contrapartida medidas que devem
ser tomadas como condição de concessão dos investimentos. Algumas exigências
postas pelo Banco Mundial posicionam-se no campo da educação básica, focando no
objetivo específico de preparar mão de obra para atender setores industriais e
tecnológicos da sociedade. No tocante ao ensino superior, ficam evidentes as
políticas de alargamento dos investimentos no setor privado, em total
detrimento de ofertas por parte dos serviços públicos que atendam às
necessidades da sociedade.
Receber propostas de medidas para a educação
brasileira por parte do Banco Mundial, para Haddad (2008) não significa que
tais mudanças sejam de qualidade, e ocorram efetivamente para benefício e
desenvolvimento da sociedade, posto que para os investidores, na realidade tal
educação reformulada apenas configura um instrumento facilitador para gerar mão
de obra capaz de gerar um mercado competitivo.
Através dos estudos de Soares (2003),
investimentos na educação ocorrem dentro de um rigoroso limiar que possibilita
a formação de mão de obra qualificada para o alcance de metas industriais em
determinados postos de trabalho, sem que seja, entretanto, dispendioso para as
organizações. Para a autora uma nova fase está se desenrolando – o
“pós-Fordismo”. Confrontado com o movimento outrora desenvolvido por Henri Ford
no princípio do século passado, verifica-se uma nova busca pela produção em
larga escala, tendo trabalhadores em cargos e funções específicas para tão
somente agigantar a produção e sua consequente lucratividade.
No que tange aos vários fatores que compõem e
influenciam a Identidade do Professor verificamos com as autoras Pimenta e
Anastasiou (2008) uma observação muito peculiar a respeito do tema: pesquisadores
e profissionais de áreas diversas ingressam na docência tão somente em razão da
bagagem que trazem consigo pelo desempenho profissional realizado até então,
isto é, pelo domínio de um conteúdo específico. Contudo, apesar de toda a sua
experiência esses profissionais nunca foram levados a refletir sobre o real
significado de “ser professor”.
Em uma perspectiva oposta, observamos as
instituições que os recebem já pelo que “são”, e se isentam da responsabilidade
inerente de contribuir para o que eles se “tornarão”, tendo em vista que a
formação de professor é um processo contínuo, onde suas experiências e
vivências práticas nas escolas e universidades são determinantes e parte
integrante deste processo.
A partir do confronto entre a Identidade do
profissional e as experiências de sala de aula, fica evidente a percepção sobre
a influência da formação do profissional no processo de construção de sua
Identidade Profissional.
Os profissionais oriundos da área da educação
ou da licenciatura, de uma forma ou de outra tiveram oportunidade de transitar
pelos elementos teóricos e práticos relativos à questão dicotômica associada ao
processo de ensino e da aprendizagem, que por si só já movimenta o pêndulo da Identidade
em direção à atividade docente, enquanto que para os outros profissionais
oriundos das demais áreas do conhecimento, a construção da Identidade já fora
iniciada desde as bases da sua formação profissional, fortalecendo-se ao longo
de toda a sua trajetória acadêmica, a exemplo de médicos, advogados, juízes,
sendo estes impelidos por motivos diversos a ingressar no mundo da docência
como atividade secundária, identificando-se como um profissional que ministra
aulas.
Um outro viés determinante no desenvolvimento
e essencial na formação do professor é a pesquisa. Quando relacionada à
Identidade, a vemos como fator direcionador no processo de reconhecimento do
indivíduo na ilustre figura do professor.
Segundo André (2001), o movimento que valoriza
o pesquisar na formação do docente é bastante recente, além de se encontrar
muito limitado, pois as reais condições de atuação constante e diuturna do
professor não contempla em carga horária nem em remuneração destinadas à
pesquisa.
Encontramos farta manifestação no sentido de
valorizar a articulação constante entre teoria e prática na formação docente, tanto
na literatura Nacional quanto na literatura Internacional, reconhecendo a
importância dos saberes da experiência e da reflexão crítica na melhoria da
prática, o que acaba por atribuir ao professor as responsabilidades sobre o
processo de desenvolvimento profissional.
Para a Autora, esperar que os professores se
tornem pesquisadores, sem oferecer as necessárias condições ambientais,
materiais e institucionais implica subestimar, tanto o peso das demandas do
trabalho docente cotidiano, quanto os requisitos para um trabalho científico de
qualidade, o que refletirá diretamente na afirmação de sua identidade.
Ressaltamos, por fim, que, segundo André
(2001) a Proposta de Diretrizes para a Formação Inicial de Professores da
Educação Básica em Curso de Nível Superior (2001), elaborada pelo Conselho
Nacional de Educação, inclui a pesquisa como elemento essencial na formação
profissional do professor, fator este determinante no processo de construção de
sua identidade como docente, quando este passa a assumir para si as
responsabilidades de transmissão dos diversos saberes relacionados às vivências
no mundo da Educação.
CONCLUSÃO
Diante de um cenário completamente
influenciado pelos ditames de elites dominantes, até mesmo em contexto
transnacional, fica evidente o ciclo de consequências no qual o Sistema
Educacional como um todo se encontra inserido.
Em especial a Docência no Ensino
Superior sofre influências diretas por meio de setores diversos, tanto da
esfera privada com interesse em lucrar com a crescente demanda por
profissionalização, quanto da esfera pública, que se esquiva covardemente de
suas responsabilidades diretas e constitucionais de prover a sociedade em seus
direitos básicos de receber a oferta de serviços públicos essenciais de
qualidade, e tenta em vão tapar o sol com a peneira dos programas sociais
populistas.
No quesito Identidade, percebemos
que a histórica desvalorização da classe docente, aliada às influências das
forças financeiras que passaram a reger o sistema educacional, resultaram em
uma diluição da essência da figura do Professor, enquadrando a classe dentre os
seres em extinção.
REFERÊNCIAS
-
ANDRÉ, Marli. PESQUISA, FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE. In: ANDRÉ, Marli (Org.), O PAPEL DA PESQUISA NA FORMAÇÃO E NA
PRÁTICA DOS PROFESSORES, Campinas: Papirus, 2001
-
LIMA, Marcelo Augusto Vilaça De. SOCIEDADE PÓS MODERNA E EDUCAÇÃO: As
influencias do Banco Mundial no processo de reordenamento do ensino superior
brasileiro. In: LIMA, Marcelo Augusto Vilaça De (Org.), EDUCAÇÃO SUPERIOR: Olhares contemporâneos, Belém: Cromos, 2012
- PIMENTA,
Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa Das Graças Camargos. DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR, São Paulo: Cortez, 2008